por Hélio Oscar Schonmann

A cidade constitui um fabuloso enigma. Como todo enigma, tende a ser obsedante para aqueles
que se aventuram em seu território. Camilo, nascido e criado em Olímpia, interior do estado de São Paulo, foi atraído por essa grande indagação que chamamos metrópole, enredando-se apaixonadamente nela. Vindo de “outro sonho feliz de cidade”, encontrou uma perspectiva muito pessoal para figurar os avessos paulistanos.
A opção pela xilogravura – seu meio preferencial – corresponde a uma necessidade poética: a atração que sente pela clareza afirmativa da forma encontra expressão natural no jogo de manchas em alto con-
traste, marca dessa linguagem. Outra característica da gravura que o atrai é a facilidade na elaboração de variações sobre uma mesma imagem – campo riquíssimo para a pesquisa gráfica. Seus trabalhos são apresentados, via de regra, em pelo menos dois estágios distintos – monocromático e cromático. Cada um constitui obra autônoma. A cor, quando se faz presente, não assume papel acessório – chega como protagonista, transformando poderosamente a natureza da imagem.

“Todo estado de alma é uma paisagem. Isto é, todo
estado de alma é não só representável por uma paisagem,
mas verdadeiramente uma paisagem (…)
De maneira que a arte que queira representar bem
a realidade terá de a dar através de uma representação
simultânea da paisagem interior e da paisagem exterior.”
Fernando Pessoa