SOBRE O ARTISTA

camilothome

 

 

 

 

 

 

 

 

Álvaro Machado, 2003 |  São Paulo 

A xilogravura Camilo Thomé (Olímpia, 1941) é uma autêntica revelação. Pertence a uma minoria de artistas que desconhecem a urgência da auto-promoção e preferem estudar e produzir concentradamente e à sombra. Atuando paralelamente como médico passa a desenhar e gravar de forma mais sistemática a partir de 1980. Executa a incisão sobre a madeira “fácil” (mole) do pinho, que permite gestos mais maleáveis. Porém estes são poucos e eficazes, compondo um moderno expressionismo que se opõe, ao mesmo tempo que se identifica intimamente, a Goeldi (“o mestre de nós todos” define Thomé). Contudo, aqui a perspectiva da urbanidade é de caráter extremamente positivo: as multidões no “downtown” paulistano personificam uma mentalidade extremamente jovial e a crença no melhor dos lados deste Admirável Mundo Novo.

 

Cláudio Mubarac | Paris, primavera de 1999

Walter Benjamin refere-se a Paris como uma cidade escrita. Pode-se percorrê-la e buscar em seus capítulos um mapa dentro do mapa. A cidade se dá aos olhos, e a todos os sentidos, como pura fruição, mesmo que misteriosa.

São Paulo, não. Cidade-esboço, sem descartar o mistério, sempre reconquistada e perdida, não se concretiza à nossa frente. Como se pudesse existir uma argamassa de vapor a construí-la, densa e frágil, que ao ser observada já se desfaz. Grande Esfinge abaixo do Equador.

As xilogravuras de Camilo Thomé, me parece, enfrentam este olhar oblíquo. Mesmo que bem talhadas, recusam a impressão habitual e buscam um modo mais bruto,paradoxalmente evanescente, de se apresentar. São de uma solidez inconclusa. Paisagem sem horizonte, que de tantos não o tem,são a visão do andarilho perplexo e fascinado pelos espaços quase inapreensíveis. No Planalto de Piratininga toda a cartografia é inútil.

 

Adriano Colangelo | São Paulo, 1987

Já o Camilo Humberto Thomé se volta para o íntimo, para a crônica do cotidiano, mas de uma forma, de uma ótica completamente diversa, nas quais uma levíssima luminosidade banha, com suas tonalidades todos os objetos e os ambientes abordados; isto leva a uma observação atenta da matéria bem densa, de onde, em contraste, se irradia uma poesia e um clima lírico dos mais sutis, sem cair no sentimentalismo fácil ou na emoção imediatista. Pintor bem mais voltado para a cor do que para a forma, redescobriu, nas coisas da vida diária, “momentos preciosos” muito pessoais e universais ao mesmo tempo.